quarta-feira, 12 de março de 2014
Expressão
É preciso entender o direito de manifestação de cada um para o bem da
harmonia de todos. O maior mal não é o que se manifesta abertamente, mesmo que
nos agrida por ferir profundamente algo em que acreditamos. Havia alguns meses que eu não assistia televisão... No dia em
que cheguei a um hotel e me acomodei à noite, liguei a TV e lá estava (de cara)
a âncora do SBT, Rachel Sheherezade, comentando sobre o garoto preso ao poste,
no Rio de Janeiro. Ela disse: “Tá com pena? Leve pra casa”. Foi um retorno
emblemático deste telespectador espantado. Mudei de canal, imediatamente. Senti
um embrulho no estômago com o lamento: por que liguei a TV justamente neste
canal e nesse programa? Era como se Deus quisesse me mostrar que eu não havia
perdido nada, durante o tempo que fiquei sem TV. Nos dias seguintes, observei a repercussão negativa e dei razão. O discurso da jornalista confrontava o sentimento de compaixão, era como se defendesse a frieza diante do fato. O que senti era como se fosse
uma cena de violência de um filme, do tipo que a gente torce pra não ver de
novo algo parecido, antes que o filme acabe. Estou contando isso porque quero
frisar que a opinião dela me fez mal. Mas acho inviolável o direito dela (como de outros) continuar manifestando a sua opinião.
E não concordo com as pressões que estão fazendo contra o SBT para que a
demita. Se ela está instigando o povo a fazer justiça com as próprias mãos, tem os trâmites jurídicos para impedir o crime. Mas querer calar a jornalista, impedindo sua liberdade de expressão, não concordo. Do mesmo jeito que repudio ameaças e o "apedrejamento" na Internet. Ouvi de alguém dizer, com muita sensibilidade, que as manifestações do
deputado e pastor Feliciano contra os gays acabaram delineando e fortalecendo
na cultura nacional um movimento saudável contra a homofobia. É claro que toda
e qualquer manifestação tem o dom de provocar a verdade, mesmo a mentira. É
possível acreditar que a mentira vença, no frigir dos ovos? Então que se
enfrentem a céu aberto. Sou pacifista, mas não contra o diálogo franco. Defendo a paz,
mas não aquela falsa paz que sustenta zona de conforto, mantendo os conflitos debaixo do
tapete. Volto às primeiras linhas para repetir que o maior mal não é o que se
manifesta abertamente para ressaltar que o mais venenoso é aquele submerso. Este não tem conserto, enquanto camuflado. Reprimir a liberdade de
expressão é um modo de estimular a hipocrisia. Querer calar opiniões contrárias
às nossas é um sintoma de fragilidade das próprias convicções. Destilar ódio
contra quem pensa diferente é a revelação do medo de confrontar os próprios
questionamentos. Devemos nos alimentar de fé para viver em paz, mesmo diante
das opiniões contrárias. Nutrirmo-nos de esperança mesmo que identifiquemos o mal,
quanto mais ele se manifestar. E saber que, quando exposta à Luz, toda mentira
(que reina na escuridão) será vencida, naturalmente.
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