quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Evolução?


Tive contato com atrocidades, por ter nascido no sertão da Bahia, e presenciar na infância certos hábitos dos adultos contra crianças. Um deles é o desrespeito total à infância, naquela época. As brincadeiras de afogar eram uma delas. Porque nem sempre a criança que estava sendo forçada a engolir água no riacho tinha confiança de que sobreviveria àquilo, era uma tortura. Meter medo em criança, contando histórias de horror ou ameaçando com o sobrenatural, era outra... Será que é por isso que Euclides da Cunha disse que o sertanejo antes de tudo é um forte? E faço uma analogia com o hábito de alguns, denunciado por Luiz Gonzaga em célebre composição, de furar os olhos do Assum Preto “pra ele assim cantar mió”... Claro que o poeta só é grande quando sofre. Todo deficiente de um sentido é compensado com o desenvolvimento de outro. Mas o que é ideal ao ser humano? Ficar cego para ouvir melhor? Ficar surdo para enxergar com mais clareza? Ficar paralítico para usar melhor o cérebro? Perder um grande amor para ser cético e, portanto, livrar-se do romantismo? Ser torturado para endurecer o coração e não chorar por qualquer bobagem? Sofrer muito de ciúme para se calejar a esse tipo de dor e parar de sonhar com o relacionamento ideal, banhado de lealdade? Ser “corneado” para se acostumar com a infidelidade geral? Falir duas, três, quatro vezes, para aprender a não confiar em bancos, sócios e clientes? É esse o ideal de desenvolvimento do ser humano? Perder algo pra ganhar outra coisa duvidosa? Ou será que é exatamente a estratégia do mal, de inibir a credulidade, combater a coragem e endurecer o coração? Quando o homem depara com um relacionamento com o Criador, tudo isso cai por terra. Primeiro, o sertanejo forte não se entrega a Deus, pois, como Paulo diz, com Deus, só na fraqueza que se fortalece. Segundo, quem endurece o coração tem problemas em compreender a existência do amor incondicional e confiar em Deus. Terceiro, quem tudo malicia e não se dispõe a perder essa desconfiança não chega nem à página 2 da caminhada da fé. Quarto, quem aprendeu a driblar a dor com excessivo senso de humor, não assimila a superação guiada por Cristo que ensina a não fugir, mas aceitar tudo com resignação. Quinto, essa psicologia do mundo, de que um vai empregando sofrimento ao outro para que todos se fortaleçam, tipo preparação para a lei da selva, é contrária ao ideal de Deus que deseja que vivamos sob a lei do amor que não é a do mais forte nem a do que tem mais dinheiro. Nem vou enumerar os outros itens para defender que é melhor um Assum Preto livre e enxergando bem do que o canto que só encanta aos impiedosos.

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